Turismo Regional

Pão de Ul | Azeméis

Angela Amorim

Angela Amorim

Comunicação & Marketing

E o homem (a)colheu…

Cerca de dois séculos nos separam dos primórdios da confeção do já famoso pão de Ul, em terras do concelho de Oliveira de Azeméis.

Não muito longe vão os tempos em que homens e mulheres levantavam-se antes do primeiro cantar do galo e faziam-se à vida. Eles e seus burricos carregavam os cereais da terra, amanhada com suor, até aos moinhos de água, riqueza incontornável de Ul, para regressar mais tarde com a farinha. Já elas, ainda nem a aurora raiava, amassavam um pão que Deus abençoou: simples, de trigo, porém único em sabor e textura, agora a caminho da certificação.

O seu sabor singular e agradável resulta da mistura de farinha de trigo, sal, fermento e água, sendo a sua cozedura em forno a lenha – obrigatória – o elemento que lhe dá o toque especial. Um toque, que, aliado a métodos ancestrais de confeção, faz toda a diferença ainda nos dias de hoje.

Moldado em forma de “pada” – união de dois pequenos bolos de massa arredondados – de cor branco-torrado, possui uma côdea um pouco dura, mas estaladiça, e um miolo suave, pouco salgado e medianamente amargo. Outrora também se encontrava em “carreira” – quatro bolos -, tradição que, aos poucos, se foi perdendo, não obstante ainda se encontrar aqui ou ali.

Quentinho a sair do forno faz ‘crescer água na boca’ a todos quantos têm a oportunidade de o provar e, então, com uma manteiguinha a derreter no seu miolo fofo e macio, o pão de Ul consegue corresponder aos desejos dos mais exigentes especialistas do setor.

A caminho da certificação, este produto tem contribuído para a divulgação gastronómica, cultural e turística de Ul, terra que integra já a Rede de Aldeias de Portugal.

Um toque ‘doce’ ao pão de Ul

A par deste alimento distintivo das gentes ulenses e, de um modo geral, de todo o concelho, a regueifa de Ul surge, um pouco mais tarde, mas não deixa de fazer parte do melhor roteiro gastronómico de Oliveira de Azeméis. Trata-se de um pão doce de forma circular, cuja produção e venda está generalizada por todo o Norte de Portugal.

Os ingredientes são similares ao do pão de Ul: farinha de trigo, água, fermento e sal, sendo acrescentado o açúcar e a canela. Antes de serem colocadas a cozer em forno a lenha, são ‘pintadas’ com ovo batido que lhes confere o seu tom dourado… uma verdadeira delícia de “encher a boca de bom sabor”.

Atualmente, outros produtos derivados encontram-se já no mercado, como o pão com chouriço, com compota ou chocolate, todavia sem quaisquer referências ancestrais.

De geração em geração…

Enquanto molda em padas a massa que já havia preparado, Lurdes Resende conta-nos a ‘odisseia da sua vida’. Uma ‘odisseia’ que – arriscamos – é semelhante a tantas outras de famílias de moleiros e padeiras, que fazem a história de Ul, uma aldeia que pertence atualmente à maior união de freguesias do município que integra a sede do concelho.

Com 63 anos de idade – poucos mais dos que tem dedicado a amassar o pão -, nasceu entre padas e regueifas, ‘enfarinhada’ de amor e carinho por avó e mãe, também padeiras de Ul.

Vive no lugar do Souto desde sempre, ali onde o tempo parece ter parado entre masseiras, tabuleiros e fornadas. No entanto, “antes tudo era mais difícil. Já há máquinas de amassar que dão uma grande ajuda agora e que utilizamos”. Porém, uma coisa não pode mesmo mudar: “O forno tem de ser a lenha… isso é que dá ao pão de Ul o seu saborzinho especial”, conta Lurdes Resende, que o Portugal de Lés a Lés foi encontrar no Parque Temático Molinológico de Ul.

“Como vê, tenho mesmo que gostar do que faço, caso contrário não estaria aqui de boa vontade a confecionar o ‘nosso’ pão a um domingo à tarde para que as pessoas possam comprar e ficar a conhecê-lo”. É que, para além de padeira de Ul há tantos anos que a memória já não lembra, Lurdes Resende pertence à Associação de Produtores de Pão de Ul, que ali, no parque, em conjunto com a autarquia, todos os dias faz questão de ter para venda o ‘ex-libris’ desta Aldeia de Portugal.

Já a ‘nossa’ padeira – que tem a ‘garra’ da sua homóloga de Aljubarrota, mas que, ao contrário desta, é com amor que distribui os pães que faz – se o não fosse, “seria professora”. Uma vocação que, na verdade, não lhe passou completamente ao lado, já que a padeira não deixa de ser também ela professora, pois diariamente transmite o seu saber e a sua experiência às novas gerações que a procuram. Até porque “perpetuar o pão de Ul” é ponto de honra para a D. Lurdes.

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